Como Estudar Fora Pode Mudar a Sua Vida

Onde eu estaria caso não tivesse feito intercâmbio?

Às vezes, eu imagino qual seria a resposta para esta pergunta. Minha vida é bastante única. Estou aproveitando muito a vida, por assim dizer, aqui no Brasil.

Às vezes, pelo Facebook, vejo as pessoas com quem eu me graduei na faculdade e no ensino médio. O que percebo é que a maioria delas ainda vive nas mesmas cidades do Colorado. Alguns conseguiram um trabalho em Denver. Muitas outras foram para cidades mais interessantes nos Estados Unidos. No entanto, muito poucas pessoas estão fazendo o que eu estou.

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Não quero dizer que o que faço – morar fora do meu país – é melhor. No entanto, muitas dessas pessoas têm inveja da minha experiência. Elas não possuem nenhuma razão que as impedem de vir morar no Brasil. No entanto, estou certo de que minhas experiências anteriores de intercâmbio me prepararam para este tipo de vida, da mesma forma em que mudaram minha vida em diversos aspectos.

Neste artigo, vou abordar:

  • COMO estudar fora mudou a minha vida (Parte I)
  • POR QUE você deveria considerar estudar fora do seu país (Parte II)
  • COMO estudar fora pode mudar a sua vida. (Parte III)

Minha Experiência

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Eu morei no Colorado durante a maior parte da minha vida. Minha experiência com viagens ao exterior era ir ao México uma vez ao ano com meus pais.  Eu e minha família íamos de minivan para San Carlos, em uma viagem de 16 horas, passar as férias de verão.

Eu, no entanto, nunca via estas viagens como sendo “para fora do país”.

Somente quando, aos 13 anos, eu viajei para a Europa, foi que tive uma verdadeira experiência de viagem. Minha tia estava morando na Alemanha na época, então, minha família decidiu ir visitá-la. Eu não tinha nenhum interesse em visitar a Alemanha. Sempre ouvia dizer que os alemães eram pessoas frias e eu não conseguia imaginar o quê o país tinha a me oferecer.

Mas naquele verão, antes de viajarmos, minha mãe me matriculou em um curso de Alemão para Iniciantes.  O professor era muito bom, e logo me apaixonei com a língua e com a cultura. Quando fui para o país, não conseguia acreditar na hospitalidade em que fomos recebidos. Todos ficavam sempre animados quando eu dizia que falava um pouco de alemão. A vizinha da minha tia, uma senhora de idade, comprava chocolates todos os dias para mim e para meu irmão antes de sairmos para as excursões.

Na viagem, visitamos outras partes da Europa, mas a cultura alemã, bem como seu povo, foram o que mais me impressionou.

Alemanha:

Assim sendo, quando fui para o ensino médio, comecei a estudar alemão em todos os semestres.

Aos 17 anos, a irmã de um amigo havia voltado de um intercâmbio na Costa Rica após participar de um programa chamado AFS. Eu estava na casa deles ouvindo as histórias que ela contava. Ela me deu um panfleto da organização e, após lê-lo, decidi que queria morar fora do meu país.

Nunca havia morado fora da minha cidade-natal, que é Durango, no Colorado. Naturalmente, fiquei com medo de uma mudança dessa magnitude em minha vida. Mas estava animado com as possibilidades. Foi então que, com o apoio da minha família, pude passar seis meses morando na Alemanha, em uma pequena cidade chamada Uslar.

Fui à escola com alemães da mesma idade. Eu era o único americano, portanto, tinha que me esforçar sempre para falar alemão. Honestamente, a única oportunidade que eu tinha de falar minha língua nativa era quando havia aulas de inglês. Nesse caso, o professor às vezes me pedia conselhos ou tirava dúvidas comigo durante a aula.

Eu me apaixonei com a Alemanha. Eu não só fiz muitos amigos e vivi a vida como um alemão da minha idade, como também me acostumei com o estilo de vida.

Hospedagem em Casa de Família e Escola

goofyNa família em que eu me hospedei, celebrávamos os feriados, viajamos para Berlim e Stuttgart e, a cada dia, experimentávamos um novo tipo de comida.

Fui apresentado a um novo estilo de vida. De certo modo, tive que me reinventar para me encaixar na nova cultura. Meus olhos se abriram. Os alemães da minha idade eram muito diferentes de mim em vários aspectos. A idade em que é permitido beber bebidas alcoólicas é 16 anos (cinco anos de diferença dos Estados Unidos, em que é 21). Percebi que poder beber aos 16 anos os fazia muito mais responsáveis com relação ao álcool, bem como mais maduros, no geral.

O ensino médio na Alemanha era muito diferente daquele nos Estados Unidos. No meu país, as pessoas geralmente formam grupos específicos, de pessoas parecidas com eles, e  passam a andar só com elas. Na Alemanha, as pessoas não ficavam em grupos, eles faziam tudo juntos. Talvez esse era somente o estilo de vida de uma cidade pequena.

A Cultura Alemã

A cultura alemã é uma das mais antigas na Europa. A época do Natal era muito especial, com os Weihnachtsmarkt (mercados de Natal). Lá, eu podia sair com meus amigos para beber vinho quente ou comer crepes de Nutella.

No entanto, mais do que as diferenças, o que mais notei foram as similaridades.

Sempre cresci pensando e, de certa forma fui ensinado, que as pessoas de outros países são diferentes. Que os americanos são únicos e excepcionais.  É um senso de patriotismo que faz com que as pessoas pensem de uma maneira cega. Mesmo nunca tendo saído do seu país de origem, conseguimos nos imaginar melhores que outros.

Quando voltei para casa, uma visão negativa acerca dos Estados Unidos cresceu dentro de mim. No entanto, eu era novo e inocente e, após alguns anos, usei a minha experiência fora do país para perceber como meu país de origem pode ser um ótimo lugar para se viver.  Falarei mais sobre isso na Parte III.

Tive uma experiência tão boa na Alemanha que já me imaginava estudando fora novamente. Me tornei um viciado: Viciado em viajar e aprender novas línguas. Isso é o mesmo que Wanderlust.

A AFS nos dava algumas orientações, nas quais os estudantes de intercâmbio iriam se encontrar em uma cidade central. Dessa forma, conheci pessoas do mundo todo (aumentando ainda mais meu espectro de visão). Havia muitos falantes de espanhol, vindos da América Latina. Anteriormente, a única exposição ao espanhol que eu possuía era quando viajava ao México, e eu nunca havia gostado da língua. Mas, ao ouvir sotaques diferentes, o espanhol ganhou um lugar especial em mim. Logo, quando entrei para a faculdade, decidi aprender espanhol e estudar fora, na Espanha.

Espanha:

Quando eu tinha 20 anos, finalmente pude ir morar fora de novo, dessa vez em Palma de Mallorca, na Espanha. Fiquei durante um ano e, por mais que pareça muito tempo, ainda foi muito pouco para mim. Estudei na Universidade das Ilhas Baleares, e todas as minhas aulas eram lecionadas em Espanhol.

Na Europa, há um programa de intercâmbio chamado ERASMUS. A cidade de Palma era um dos lugares que aceitam pessoas do programa. Meu programa de estudos no exterior (CIEE) nos incluía, nós americanos, nos eventos ERASMUS, juntamente com outros estudantes estrangeiros. Logo, eu não só fiz amigos espanhóis, como também de todos os lugares do mundo.

Fazíamos todo tipo de coisa juntos, desde ir à praia, excursões e festas. Foi realmente o melhor ano da minha vida. Aprendi espanhol e conheci pessoas que continuam sendo meus melhores amigos até hoje.

Amadureci muito com essa experiência, morando com amigos ao invés de morar com uma família. Eu realmente precisava saber como cuidar de mim mesmo, ainda que eu e meus colegas de quarto compartilhássemos algumas responsabilidades: cozinhávamos e limpávamos a casa juntos. Até mesmo o cachorro era cuidado por todos nós. É claro que a barreira linguística dificultava as coisas às vezes, mas faz parte do processo.

Tive experiências extraordinárias na Espanha, formando, definitivamente, parte das minhas melhores lembranças na memória. Deixe-me contar a vocês algumas delas:

Passeando de Caiaque

Três dos meus melhores amigos (dois espanhóis e uma americana) foram comigo para uma viagem de três dias de caiaque na Ilha de Formentera, na Espanha, para o feriado de primavera. Nos, literalmente, dormíamos na praia, debaixo de uma cabana fechada no meio da mata. Encontramos um hotel abandonado com uma janela aberta e dormimos por lá duas noites (usamos as almofadas do sofá como camas, o que já era uma grande diferença com relação a dormir no chão!). Não levamos barracas.

Comemos macarrão por seis dias (em um dos dias, esquecemos de comprar água e tivemos que cozinhar o macarrão com água do mar. Nunca havia comido uma refeição tão salgada!)

Passeávamos de caiaque por 25km cada dia. Um dos meus amigos decidiu sair do caiaque para fazer xixi e o caiaque virou, comigo dentro, nas águas do rio. Depois disso, percebemos que seria melhor fazer xixi pelos tubos de drenagem.

Lá pelo final da nossa viagem, pensávamos que nossos braços iriam cair. Estava difícil carregar até mesmo meu colete salva-vidas, quanto mais trazer os caiaques para a areia. No entanto, após longos dias pedalando e dormindo em lugares bizarros, demos a volta na ilha. Apesar de tudo, foi uma das viagens mais divertidas e bonitas em que eu já estive. Quando não estávamos nos caiaques ou morrendo de cansaço, ríamos até nossas costelas doerem.

Hiking

Passei por outra aventura, que foi tentar caminhar desde a cidade de Valledemossa até outra chamada Sollér, em Mallorca. Parece fácil, né? Eu estava com os mesmos dois amigos espanhóis que andaram de caiaque em Formentera. Esperávamos caminhar seguindo uma trilha, o que nos levaria algumas horas.

Fomos até metade do caminho entre as duas cidades quando a trilha mudou de direção, indo para outra cidade. Perguntamos a outras pessoas fazendo hiking, e que por sorte tinham um mapa, onde estava a trilha para Sollér. Eles nos disseram que não havia uma trilha para lá e que precisávamos descer e seguir até Sollér pela estrada.

Mas queríamos caminhar pelas montanhas, e não andar ao lado de uma rodovia. Usamos, então, o iPhone do nosso amigo, para nos apontar a direção certa, e começamos a andar. Levou muito mais do que esperávamos. Nossa água acabou, foi quando encontramos um cano vazando água em direção a uma lagoa (não tínhamos ideia de onde a água vinha) e decidimos encher nossas garrafas (por sorte, a água era potável).

Começou a escurecer quando finalmente chegamos a Sollér.

Mas a única maneira de chegar até a cidade era uma descida íngreme e, à noite, poderia ser perigoso. Não estávamos preparados, não tínhamos sacos de dormir, tendas, comida ou mesmo iluminação. Acampar teria sido uma fria.

Decidimos, então, descer – ou rolar – a descida íngreme, usando nossos celulares como lanternas. No fim das contas, chegamos à rodovia somente com alguns arranhões e machucados.

A primeira coisa que fizemos ao chegar ao albergue em Sollér foi comprar uma pizza enorme, com todas as sobremesas que tínhamos direito, e cerveja!

Dormindo em uma Caverna

Em um fim de semana sensacional, planejamos uma festa para todos os estudantes internacionais em uma praia linda, chamada Cala Varquez. Tínhamos fogueira, tocamos guitarra e cantamos, pulamos de penhascos, nadamos e tomamos alguns drinks.

Não há nada melhor do que uma festa na praia com bons amigos.

Novamente, ficou muito frio à noite e ninguém tinha barracas – somente alguns cobertores. Tentamos dormir na praia, mas estava congelando. Então decidimos ir dormir em uma caverna, que estava mais quente. Oito pessoas espremidas em uma caverna, dormindo com a cabeça virada para baixo. Não foi muito confortável, mas estava bem mais quente, então dormimos bem.

Na manhã seguinte, vimos que havia mais alguém dormindo na caverna, virado de costas. Ficamos preocupados e não sabíamos se estava tudo bem com a pessoa. Ninguém se voluntariou para levantar, quando alguém disse “joguem uma pedra nele”. Foi o que fizemos, e ele murmurou—estava tudo bem.

Levantamos e saímos da caverna. Meia hora depois, o cara da caverna também saiu. Era nosso amigo brasileiro. Perguntamos a ele porque ele estava dormindo com o rosto virado para baixo. A resposta dele foi “Ninguém me entende” em seu sotaque brasileiro latente. Passamos mais de 20 minutos rindo.

Eu ainda rio sozinho me lembrando dessas experiências. Meu ano estudando fora, na Espanha, é uma coisa que fico muito orgulhoso e nunca esquecerei. Tive todas essas aventuras de sobrevivência e não consigo compará-las com nenhuma outra época da minha vida.

Além do mais, morar na Espanha me trouxe para o Brasil. Dentre os amigos que fiz, os brasileiros eram os que me intrigavam mais, devido à cultura e à linguagem. Eu sabia que, depois de me formar, viria para cá e aprenderia português.

E fiz acontecer. A cada dia fico mais e mais confortável com meu português, além de estar vivendo uma vida sensacional aqui no Brasil.

Onde eu estaria caso não tivesse feito intercâmbio?

Eu certamente não estaria no Brasil escrevendo artigos para o RealLife English.

Não teria tido a chance de conhecer tantas pessoas as quais considero melhores amigos.

Teria uma visão muito mais fechada do mundo.

E, provavelmente, estaria entediado em um trabalho de 9 às 5 no Colorado, sem ter certeza do que fazer com a minha vida. Bom, eu não tenho certeza do que estou fazendo com a minha vida agora, mas, pelo menos estou em um lugar exótico, em que todos os dias há algo novo e interessante!

Espero que você tenha achado minhas experiências engraçadas e interessantes. Espero que elas tenham te inspirado para fazer uma mudança em sua vida, para guardar dinheiro e ir estudar fora. Se você se sente entediado com sua vida estável e busca algo mais, saia por aí e vá viver uma aventura!

Mesmo que você possa viajar por um curto período de tempo, você já vai adquirir uma perspectiva nova e os benefícios vão durar uma vida toda. Eu recomento altamente que você considere algum tipo de programa de intercâmbio, e espero que esta série de artigos te convença.

Adoraria que você postasse abaixo a cidade ou o país em que você está morrendo de vontade de morar ou de estudar fora. Por que você quer morar lá? E quais são as ações que você está tomando para que isso aconteça?

Se você quer saber como estudar fora pode mudar a sua vida, leia a Parte II deste artigo!

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  • Nanda says:

    Esse foi o melhor texto que já li aqui no Real Life! Fabuloso! Eu realmente estou planejando e correndo atrás para conseguir uma bolsa de intercâmbio no ano que vem. =] Adoraria ir para a Inglaterra.

  • Meus sonhos morrera!arespeito de ganhar vida fora de ksa;deus mim quer perto de minha familia!

  • Parabéns para vcs que tem essas vocations!buenas

  • Henrique says:

    Eu já sonho em fazer um intercâmbio e após este texto, vontade mais que duplicou!

    Sensacional suas experiências Ethan, não é só os seus amigos de Durango que tem invejam, EU também!

    E vejam só, Alemão, Espanhol e Português fluentes, além da língua materna. Parabéns.

    Obrigado por compartilhar suas experiências. E venha ao Nordeste qualquer dia, interior de Pernambuco, no São João, muita mulher linda, festas e cervejas. 🙂

    Sucesso!

  • Que legal saber de suas experiencias aqui no Brasil Ethan, e te admiro pela coragem!
    Quero muito conhecer a Inglaterra e outros países Europeus, e é claro, a terra do Tio Sam (USA).
    Seu português escrito é ótimo!

  • Eu adorei este post! E pretendo fazer intercâmbio de 4 semanas nos EUA o ano que vem. Só estou indecisa em qual cidade…

  • […] parte I desta série de três partes sobre intercâmbio cultural, eu falei sobre minha experiência […]

  • Marcia Andrade says:

    Eu ainda quero ter essa experiência de fazer um intercâmbio. Tenho certeza que seria muito rica para mim!

  • Marlon Bruno Guedes says:

    Bom dia! parabéns pelo Artigo, gostei muito cara, eu estou estudando inglês quero estudar no Canadá e se possível morar lá um dia, mas acho legal os Estados unidos e alguns países da Europa também, abraços.

  • Marlon Bruno Guedes says:

    Bom dia! parabéns pelo Artigo, gostei muito cara, eu estou estudando inglês quero estudar no Canadá e se possível morar lá um dia, mas acho legal os Estados unidos e alguns países da Europa também, abraços.